A História da Dor: Entre a Cruz, o Mercado e o Silêncio
Ao longo da história da humanidade, uma constante atravessa impérios, religiões, sistemas econômicos e correntes filosóficas: nós sofremos, a dor é real. Sofremos no corpo, na mente e na alma; sofremos na guerra e na paz; sofremos na abundância e na escassez. Cada época trouxe seus próprios tipos de dores, e cada indivíduo enfrentou — e ainda enfrenta — seus próprios “demônios”. Leia também: O Peso da Dor e o Silêncio dos Cúmplices O que muda, no entanto, é como a sociedade interpreta e lida com esse sofrimento. Nem sempre existiu o conceito de vitimização. Nas sociedades antigas, lamentar-se publicamente não era, via de regra, bem-visto. A dor, quando exposta,…
O Evangelho e a Favela: Uma leitura do Texto “Igreja na favela não dá”, de Luiz Sayão
“Quando alguém se converte, muda de vida e sai da favela.”Assim afirmou, com convicção, o interlocutor de Luiz Sayão, no texto publicado em formato de carrossel digital com o título provocativo: “Igreja na favela não dá” (Texto na íntegra no final deste artigo). Diante de tal afirmação, o coração que crê e pensa não pode permanecer em silêncio. Há, sim, elementos de profunda verdade no texto de Sayão — e, com justiça, eles precisam ser reconhecidos. No entanto, há também ambiguidades sérias, falsos silogismos e riscos teológicos que não podem ser ignorados. Pior ainda: há a reprodução inconsciente de um imaginário profundamente elitista e meritocrático que, se não for confrontado…
A Falácia da Doutrinação das Universidades
Vivemos em um tempo marcado por discursos prontos, geralmente moldados por bolhas ideológicas, onde palavras como “doutrinação” são lançadas como dardos para demonizar instituições e desacreditar o saber crítico. Um dos alvos preferidos dessa retórica tem sido a universidade pública, acusada de ser um centro de “doutrinação esquerdista”. Porém, antes de aceitar tais acusações, é fundamental entender: o que é, de fato, doutrinar? E quem mais doutrina: a universidade ou a religião? O termo universidade carrega em si a noção de pluralidade. O próprio nome revela sua vocação: um universo de pensamentos. Ali se estuda arte, filosofia, ciência, religião, tecnologia, culturas e suas contradições. É o espaço da divergência, da…
Autismo: Deficiência e Neurodiversidade
O ano de 2024 chegou ao fim trazendo angústias e retrocessos significativos para a comunidade autista. Agora, em 2025, o cenário continua preocupante, apontando para uma direção ainda mais desafiadora. Entre as situações mais alarmantes esteve a possibilidade de exclusão das pessoas com autismo de nível 1 de suporte da lista de beneficiários do Benefício de Prestção Continuada (BPC-Loas). Isso, por si só, já representa um ataque direto aos direitos de uma parcela significativa de nossa população. Como se não bastasse, também foi retirada a cadeira de representação das pessoas autistas no CONAD, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, na minuta mais recente. Claramente, essas medidas indicam…
O Mito do Racismo Reverso
A branquitude dominante, em sua busca incessante por perpetuar o poder, criou uma ficção perversa: o racismo reverso. É uma invenção que, embora absurda, ganhou ressonância entre aqueles que se sentem ameaçados pelo simples ato de questionamento. Esses defensores do poder histórico, em sua engenhosidade para distorcer a realidade, comparam uma ironia lançada por uma pessoa negra a um branco ao peso histórico e sistêmico do racismo. Uma comparação desonesta, tosca, mas cuidadosamente articulada para manter a supremacia intacta. Há uma fantasia elaborada nessas mentes, que insistem em enxergar o desconforto de ouvir verdades como o mesmo que sofrer a opressão secular. Os poderosos, quando confrontados, armam-se de sua fragilidade…
O Merthiolate que Não Arde e a Sociedade que Não Sente
Na prateleira do tempo, há quem sinta saudade de uma época onde o merthiolate ardia. Esses, nostálgicos do desconforto, parecem lamentar a perda de uma dorzinha que, para eles, fazia a diferença entre a infância e o hoje. O que me espanta é o carinho com que abraçam essa lembrança, como se aquele ardor fosse uma espécie de rito de passagem, um batismo de fogo que validasse o sofrimento e, por conseguinte, a maturidade. Crescemos com a ideia de que o sofrimento molda o caráter, de que a dor é uma ferramenta indispensável para esculpir uma vida digna. Não nego que a dor tem sua função; ela ensina, alerta, amadurece.…