O Mistério de Uma Teologia que Sangra e Canta
A teologia, por vezes, é sequestrada por laboratórios sem vida. É arrancada da terra molhada pela lágrima do pobre, da calçada onde dorme o esquecido, do altar improvisado da casa de um fiel que ora em silêncio diante da dor. Arrancada, embalsamada e colocada em vitrines douradas de academias onde o verbo não se faz carne, mas papel, rodapé e nota de rodapé. Tornou-se, em muitos círculos, uma ciência dos fósseis, um estudo dos ossos de Deus, como se o Eterno pudesse ser arqueologicamente escavado e catalogado por categorias humanas. Leia também: Teologia é para Gente Cansada Mas a teologia verdadeira… ah, essa não cabe em tratados nem se aprisiona…
A Teologia da Fraqueza como Cosmovisão Cristocêntrica
Introdução Adquira meu livro Teologia da Fraqueza (Neste artigo discorro sobre ele). Este artigo nasce de uma caminhada pessoal, espiritual e acadêmica. A Teologia da Fraqueza, proposta nesta obra e fruto das minhas reflexões, leituras e experiências, é mais do que uma abordagem sistematizada das Escrituras. Trata-se de uma compreensão existencial da condição humana, especialmente à luz da revelação bíblica e da experiência de um Deus que se manifesta na fragilidade. Em um tempo dominado por discursos triunfalistas, onde o fracasso é ocultado e a fraqueza rejeitada, proponho um retorno à cruz como eixo hermenêutico da espiritualidade cristã. Leia também: O Peso da Glória e a Fraqueza Que Vence o…
Morrer Para Viver: O Chamado do Discípulo
Nós, cristãos, somos chamados para morrer. Esta é uma verdade que Cristo expressou claramente, quando disse aos seus discípulos: “Sereis minhas testemunhas” (Atos 1:8). A palavra grega usada para “testemunhas” é melhor traduzida por “mártires” – aquele que está disposto a dar sua vida pela causa de Jesus. Ser discípulo de Cristo implica em assumir, desde o início, que nossa vida já não nos pertence, mas está sujeita ao propósito divino. Há uma tendência no mundo atual de se falar em “cristofobia” – o medo ou ódio ao cristianismo e seus seguidores. Mas, quando somos perseguidos, caluniados ou até mortos por amor a Cristo, o que está acontecendo é o…
A Beleza da Simplicidade na Vida Cristã
Vivemos em um mundo que anseia por ideais inatingíveis, um lugar onde a maioria espera ser ou ter aquilo que continua para ser conquistado. Este anseio não é alheio ao ambiente da fé. Dentro da igreja, muitos cristãos vivem na expectativa do que ainda não possuem, na algibeira do ainda por vir. Esperam algo extraordinário, clamam por manifestações espetaculares, desejam o que há de sobrenatural como um selo de que Deus está ali. Aparentemente, ninguém quer se alegrar com o ordinário, com aquilo que se repete dia após dia e parece pouco digno de nota. Contudo, na fé cristã há uma beleza inigualável na previsibilidade das promessas de Deus. Por…
Sobre Igrejados e Desigrejados
É curioso observar como, ao longo dos séculos, o cristianismo institucionalizado foi se transformando em uma série de rituais, normas e tradições que, embora pudessem ter seu valor em determinados contextos, acabaram muitas vezes obscurecendo o cerne do que deveria ser o Evangelho de Cristo. O movimento dos desigrejados, que frequentemente é criticado pela sua escolha de abandonar as estruturas institucionais da igreja, nos leva a refletir sobre questões fundamentais do relacionamento do ser humano com Deus, e a crítica a eles não deveria existir sem uma crítica paralela ao que chamo de “igrejados” — aqueles que permanecem na igreja institucional, mas que, em muitos casos, também perdem o foco…
Quando a Meritocracia Usurpa o Evangelho
No cenário eclesiástico contemporâneo, surgem diversas justificativas para a disparidade financeira entre pastores e suas comunidades, muitas vezes permeadas por uma visão de meritocracia influenciada pelo capitalismo. Recentemente, duas declarações captaram minha atenção, ambas refletindo essa mentalidade de forma preocupante. A primeira alegava que um pastor deve ter seu padrão de vida ajustado ao contexto econômico de sua congregação: pastores em igrejas ricas deveriam viver em conforto e abundância, enquanto aqueles em comunidades pobres estariam condenados a uma vida mais humilde. A segunda justificativa afirmava que é natural que pastores famosos recebam maiores ofertas do que aqueles menos conhecidos, pois o primeiro “trabalhou” por seu sucesso. Essas declarações, à primeira…